Por Charles Júnior e Antônio Carlos
“Eu não posso falar, temos que encontrar um lugar tranquilo algum dia. Esta é uma questão importante e precisamos fazer isso lá fora para que possamos lidar com isso, certamente, hoje” [1].
Com sorrisos em uma prosa entre amigos, o último presidente que virou o jogo e o atual que peleja pela 2ª vez alavancar a economia americana da estagnação, deixaram um bocado de gente confusa. Mas a crítica da economia política é implacável, CHAMA!
Para além das aventuras de nosso vilão predileto, a prosa entre os rapazes é bem séria. Nada das lacrações midiáticas para inglês ver, ou a tão temida desregulamentação de Zuckerberg. Os rapazes estão tratando de cousa séria. Simplesmente como fazer a roda civilizatória girar. Muito porque, o Sr Nobel da Paz 2009 meteu bomba com força no Oriente Médio, potencializou uma nova matriz energética [2] a quase ⅓ do preço pago pela Europa a Rússia [3] [4], estatizou bancos e indústrias automobilísticas, distribuiu grana a dar com o pau a toda burguesia e, de quebradinha, deu umas bolsas para conter as revoltas da classe trabalhadora. Ou seja, alavancou a maior economia do planeta à estratosfera num pós-crise invejável.
Já que o homem mandou bem, porque não pegar a manha com quem sabe do assunto? E é disso que queremos tratar, como está a economia mais pujante do planeta (pujança qualitativa, não quantitativa, meus lindos).
Em 2020, Biden foi eleito diante de um enfraquecido Trump que naufragou, tanto no combate à pandemia do covid, quanto na retomada da crise cíclica do capital que desmantelava o mundo. O novo presidente prometera reconstruir o país: um atualizado New Deal com seu pomposo “The American Jobs Plan” ou “Plano Biden”. Quatro anos depois, vimos um carcomido Biden ser descartado pelo Partido Democrata e substituído às pressas por Kamala. O fracasso econômico traçou seu destino, mesmo bombando a indústria armamentista e pleno emprego foram facilmente abatidos por Trump na eleição presidencial. Mas o que conseguira levar Trump novamente ao gosto da burguesia norte-americana?
A volta de Trump com seu “Make America Great Again – MAGA” aparece como uma hecatombe na política mundial. Claro, muito mais pelo sensacionalismo, prometendo deportações em massa, tomar a Groelândia da Dinamarca, assumir o controle do Canal do Panamá, mudar o nome do Golfo do México para Golfo da América e anexar o Canadá. Sabemos que o que importa são outras promessas. As sonhadas desregulamentações, as tentativas de influenciar nas políticas do FED, o Super Bowl econômico (guerra fiscal), e o fim das guerras da Ucrânia e Israel.
Na superfície dos problemas
Na aparência, a economia norte americana anda relativamente bem: algum crescimento e o tão sonhado pleno emprego, ou seja, a reeleição seria uma questão de tempo para a esquerda democrática mundial.
Porém,
“A vida realmente é diferente,
Quer dizer
Ao vivo é muito pior” [5]
Os salários dos trabalhadores americanos estão crescendo em um ritmo bem abaixo do nível pré-pandemia. “Em média, o poder de compra do salário-hora de um trabalhador do setor privado cresceu a cerca de um terço da taxa de 0,7% registrada no período pré-pandemia” [6].
E, o principal: o motor da economia cresce de forma estacionária, taxas próximas de zero, somente fazendo a máquina andar para não morrer. Ou seja, saiu da CTI e foi pro leito, mas anda mal, cambaleia à espera de mais sangue, ossos, nervos e músculos com sua fome de mais-valia. Rosa Luxemburgo, nossa revolucionária predileta, nos alertou que, nos momentos pós-crise, os Estados nacionais em modo estacionário são levados à guerra e ao protecionismo. E o que Trump propõe para a economia? Sim, meu povo proletário… protecionismo! Taxar os BRICS, em especial a China, Canadá, México e o resto do mundo.
Mas Tonho gritou aqui no meu ouvido: Porr4 Charles! Mas ele vai acabar com as guerras? E a Rosa? Sim, ao que tudo indica vai, mas adivinhem quem irá reconstruir tudinho com o melhor Know-how mundial? E me digam lá, por acaso o fim da guerra contra Saddam acabou com a guerra civil no Iraque?
Lembremos como foi o Iraque, uma farra das construtoras e das equipes de segurança. Coisa linda de se ver: lucram com as bombas, com a reconstrução, com a segurança das construtoras e com a segurança dos governos implantados pelos senhores da guerra para gerir seus interesses nesses países devastados. Isso sim é o espetáculo da democracia nacional burguesa em seu esplendor!
Agora os dados, claro, senão Charlinho xinga nós!
O gráfico acima, produção industrial, capacidade e utilização, é desenvolvido pelo FED [7]. Vamos dar atenção ao detalhe, de 2020 até agora.
Vemos aí que Biden até tirou Charging Bull [8] do atoleiro, mas observe com atenção a linha vermelha (manufatura) sempre abaixo ou próximo de 100, de 2020 até agora. Ou seja, nada de um “novo New Deal”: produção estacionada! Já que as promessas não foram cumpridas, os democratas amargaram a lona.
Deem uma olhada na Tabela 1, com os valores dos índices da manufatura, para que não restem dúvidas. Estamos de olho na evolução trimestre a trimestre e não há nenhum sinal de recuperação.
Mais abaixo vemos o coração do gigante — os dados do setor de produção de bens duráveis. Na primeira coluna, a produtividade do trabalho foi negativa em 2022, em 2023 e em 2024, dois trimestres abaixo de um e um trimestre negativo. Isso significa que os capitalistas não estão conseguindo aumentar a extração de mais-valia dos trabalhadores. O custo unitário do trabalho subindo, a produção com passos de siri e a produtividade do trabalho caindo.
Junto a isso o sinal foi dado e a terra começa a tremer com a retomada das greves, foi o maior número em 50 anos [9]. Combinação mortífera para os sanguessugas de valor e mais-valia, então é hora de trocar seus vassalos.
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Estado estacionário
Como vemos na tabela acima, enquanto a produtividade (taxa de mais-valia) tem variações negativas, na última coluna podemos observar o custo unitário da força de trabalho (valor da força de trabalho), eles foram positivos em 2022 e 2023, já em 2024 temos dois trimestres positivos. Quando os capitalistas não conseguem aumentar a taxa de mais-valia e nem reduzir o valor da força de trabalho, ocorre uma queda na taxa de lucro, o que se expressa na redução dos investimentos em produção. Observando a segunda coluna, em 2023, um crescimento próximo de zero e o que será repetido em 2024 — uma produção estagnada.
Este é o cenário que encontramos desde a crise cíclica iniciada no 1º trimestre de 2020: um cenário de produção estacionária, com crescimentos da produção próximos de zero. Não víamos esse cenário desde o pós-2ª Guerra Mundial, de 1945 até 2020.
Nas circunstâncias de economia estacionária, as indústrias de bens de consumo são transformadas em indústrias de produção de armas, como podemos ver nos dados de crescimento da indústria Americana do Federal Reserve (Relatório G17), na tabela abaixo, a produção da indústria total (manufatura e energia) teve resultados negativos em 2023 e 2024, já os dados da indústria de alta tecnologia mostram robustos crescimentos nos anos de 2022, 2023 e 2024. O FED classifica como indústria de alta tecnologia a produção de Computadores e equipamentos periféricos, Equipamentos de comunicação, Semicondutores e componentes eletrônicos relacionados, ou seja, produtos que são largamente utilizados nas guerras atuais com seus modernos armamentos de destruição.
Como vimos no Gráfico 1, a produção da manufatura americana está estagnada desde 2020, já no Gráfico 3, a produção da indústria de defesa está em franca ascensão, formando quase que uma linha reta após a eclosão da crise geral do capitalismo em 2020. Ou seja, meus amigos, o que sustenta a maior economia do planeta são as armas consumidas nos fronts de batalha, principalmente na Guerra da Ucrânia, para onde já foram enviados mais 175 bilhões de dólares [11].
Gráfico 3
Perspectivas do governo Trump
Como dissemos no início, as propostas de Trump apareceram como uma hecatombe no noticiário mundial. Mas as coisas podem não ser bem assim, como podemos ver no excelente artigo na Bloomberg [12], com relação às tarifas:
“Na campanha eleitoral, Trump prometeu tarifas de 60% para a China e 20% para todos os outros. No cargo, é improvável que ele vá tão longe. Trump vê as tarifas como uma ferramenta de barganha. Ele pode negar que elas representam riscos para o crescimento, inflação e lucros corporativos. Os mercados vão implorar para discordar. Com empresas como a Apple Inc. na linha de fogo, uma grande queda nos preços das ações pode fazer Trump hesitar”.
Ao contrário do que tagarela, Trump convidou Xi Jinping para sua posse, sinalizando uma acordo entre cavalheiros [13]. Muito porque, além da desvalorização das principais empresas, segundo a Bloomberg, esta simples medida pode reduzir a participação dos EUA no comércio mundial de 20% para 16% até 2028 e aumentar a inflação. E isto será impossível de ser aceito pelos reis das minas e das fornalhas.
Sobre a retomada do Canal do Panamá, talvez não seja uma proposta tão absurda. Isso porque revela uma preocupação real com dificuldades no comércio marítimo que elevaram o preço dos transportes, como a atuação dos Houthis no Canal de Suez e, ironicamente, no caso do Canal do Panamá, como resultado das mudanças climáticas.
“Em janeiro de 2024, foram registradas 1.338 embarcações no canal de Suez e 676 na rota do Panamá. No mesmo mês de 2023, eram 2.121 na rota de Suez e 1.115 no canal do Panamá. A redução começou a ser observada entre os meses de novembro e dezembro do ano passado, quando mais de 200 navios pararam de utilizar cada uma das rotas” [14].
Já falando das deportações. Como deportar milhões de trabalhadores se a economia está em pleno emprego? Lembremos que a 1ª gestão de Trump não ficou muito longe de Biden, sendo 40% a mais de deportados do que no governo Biden.
Enfim, meus camaradas, o trem não tá nada fácil para Trump e seu MAGA, muito porque, como diz o poeta cearense, “ao vivo é muito pior!”. E o desafio é gigante.
Mas, para nossa sorte, tudo pode piorar e, felizmente, tem muita gente insatisfeita com a precarização e pauperização de nossas vidas. Sim, são aqueles que têm ressurgido nesses anos de precarização pós-pandemia. E vai dar bom mesmo, se o maior e mais desenvolvido proletariado mundial se unir aos 11 milhões de hermanos sem documentos para, bem unidos, fazerem uma terra sem amos! Aí sim, o caldo trumpista azeda, dele e da burguesia interplanetária.
Mas, de certo, as próximas cenas da política da maior economia do globo serão definidas de acordo com a evolução do estado estacionário. Seguimos atentos!
Paz entre nós, guerra aos senhores!
Notas
[1] https://extra.globo.com/blogs/page-not-found/post/2025/01/leitura-labial-qual-foi-o-motivo-do-riso-de-obama-e-trump-durante-o-funeral-de-carter.ghtml
[2] https://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/meio-ambiente/de-nova-promessa-energetica-gas-de-xisto-vira-vilao-ambiental-8vdyd8rusuw6ahh2h3jpt837y/
[3] https://www.novacana.com/noticias/exploracao-gas-xisto-estados-unidos-revolucao-energetica-050813
[4] Deixando a matéria-prima da indústria norte-americana muito mais barata a nível mundial, ganhando competitividade.
[5] “Apenas um Rapaz Latino Americano”, Belchior.
[6] O Federal Reserve Banks é o Banco Central do EUA: https://www.federalreserve.gov/aboutthefed.htm
[7] Os índices da produção industrial (IP) medem o real resultado da manufatura, mineração e indústrias de serviço público de eletricidade e gás; o período de referência para o índice é 2017. Para mais, ver explicação em https://passapalavra.info/2022/03/142601/, no parágrafo abaixo do gráfico 14.
[8] https://www.thewallstreetexperience.com/blog/story-behind-legendary-charging-bull/
[9] https://www.bbc.com/portuguese/articles/cg3z0zzn08wo
[10] https://www.bls.gov/opub/btn/volume-13/did-the-pandemic-affect-real-earnings.htm
[11] https://www.cfr.org/article/how-much-us-aid-going-ukraine
[12] http://www.bloomberg.com/features/2024-trump-day-one-agenda/?srnd=homepage-americas&embedded-checkout=true
[13] https://exame.com/mundo/trump-convida-xi-jinping-para-cerimonia-de-posse-mas-deixa-putin-de-fora/
[14] https://exame.com/mundo/os-canais-de-suez-e-do-panama-estao-no-minimo-historico-de-comercio-como-isso-afeta-o-mundo/
Charles, me ajude a entender uma coisa. Você diz que Trump vai frear as guerras para apostar no negócio da reconstrução. Mas mais abaixo no texto, com o gráfico 3, diz que o que mantêm a industria estadunidense de pé são as armas consumidas nessas guerras. Estaríamos apostando em que dentro de 2 anos ou 4 anos vamos ver um texto teu apresentando um gráfico com uma diminuição da produção armamentícia e um aumento dos investimentos diretos nos territórios que hoje estão em guerra?
Refletindo sobre algumas das ideias desse artigo, antecipadas numa conversa em um grupo de WhatsApp, eu vinha defendendo que as tarifas e o protecionismo de Trump podem ser vistos como ferramentas de barganha para pressionar parceiros comerciais e, ao mesmo tempo, como medidas de proteção econômica que correm o risco de desestabilizar as cadeias produtivas globais, e que essa estratégia, embora politicamente atrativa a curto prazo, tende a provocar efeitos colaterais negativos, como aumento dos custos de produção e retaliações internacionais. Os dados apresentados (e as ideias do artigo de João Bernardo publicado ontem), contudo, me fizeram reavaliar alguns pontos, pois evidenciam uma produção industrial estagnada, baixa produtividade e aumento do custo unitário da força de trabalho.
a) Crise Estrutural e Economia Estacionária
Os dados recentes da economia dos EUA reforçam a hipótese de que a economia americana, embora apresente sinais superficiais de “bem-estar” (como pleno emprego), está na verdade em um estado de estagnação profunda. Nesse contexto, a proposta de Trump de retomar medidas protecionistas não aparece como uma mera ferramenta de barganha, mas como uma resposta a um cenário de crise estrutural, pois a lógica protecionista se integra a uma tentativa de reorientar um modelo econômico que já está fragilizado, especialmente quando os ganhos em termos de renegociação comercial podem ser ofuscados por um cenário de queda na taxa de lucro e redução dos investimentos.
b) Cadeias Produtivas e a Transformação Setorial
As cadeias produtivas transnacionais são profundamente interligadas, e as medidas protecionistas podem “estrangular” esses fluxos, favorecendo, indiretamente, a ascensão da China e de outros parceiros comerciais que se reestruturem em blocos regionais e “papem” o que é deixado de lado pelos EUA, devido a dificuldades interpostas pelo protecionismo. Os gráficos e tabelas apresentados evidenciam uma indústria manufatureira operando próxima da capacidade máxima (e estagnada) desde 2020, enquanto a produção da indústria de defesa mostra crescimento robusto. Em um ambiente de economia estacionária, a transformação da indústria de bens de consumo em setores voltados para a produção de armamentos – ou, de forma mais ampla, de produtos estratégicos –, pode ser interpretada como uma resposta à falta de alternativas de crescimento. Assim, além de favorecer a ascensão da China por meio do reordenamento das cadeias de valor, o protecionismo norte-americano pode estar contribuindo para uma reorientação do setor produtivo rumo a áreas de alta tecnologia e defesa, reforçando o argumento de que, em tempos de crise, os Estados tendem a adotar medidas que os conduzem a uma economia de guerra.
c) Conflitos Internos, Rivalidades Geopolíticas e a Dimensão Tecnológica
O protecionismo exacerbado pode desencadear retaliações internacionais e, em última análise, intensificar rivalidades geopolíticas, num ambiente onde a fragmentação dos mercados leva a uma nova forma de “guerra comercial” – e, potencialmente, a conflitos mais amplos. O cenário pós-crise, marcado por estagnação da produção, queda na produtividade e insatisfação dos trabalhadores (com greves recordes), é propício para tensões sociais e políticas. Rosa Luxemburg já alertara que Estados em modo estacionário podem ser levados à guerra e ao protecionismo. Aqui, o protecionismo de Trump não apenas agrava a vulnerabilidade econômica, mas também sinaliza uma disposição a “trocar vassalos”, ou seja, a reorganizar as relações de poder internas e externas em meio a uma economia em declínio estrutural. Ao destacar o deslocamento da produção de bens de consumo para a produção de armamentos, a crise econômica pode, paradoxalmente, intensificar tanto a corrida armamentista quanto a preparação para conflitos diretos – tanto internos, em termos de luta de classes, quanto geopolíticos –, reforçando a hipótese de que a economia estacionária se converte num terreno fértil para disputas de poder.
Adicionalmente, talvez caiba trazer para o debate uma reflexão sobre segurança nacional e competição tecnológica, especialmente no que tange à recente e crescente disputa no campo da inteligência artificial (IA). Acredito que as medidas protecionistas de Trump não se limitam a uma tentativa de proteger a indústria tradicional, mas também se inserem numa estratégia de segurança nacional e supremacia tecnológica. A corrida pelo domínio da IA – ilustrada, por exemplo, pelo confronto entre iniciativas como o Deepseek e o ChatGPT – revela uma dimensão estratégica em que o controle e o desenvolvimento de tecnologias avançadas são considerados essenciais para a manutenção do poder global. Nesse cenário, a política protecionista dos EUA pode ser vista como um instrumento para:
a) Preservar o know-how tecnológico e a capacidade de inovação nacional: Ao restringir o acesso a insumos e tecnologias estrangeiras por meio de tarifas e barreiras comerciais, os EUA buscam incentivar a produção interna e evitar a dependência de potências como a China, que também investe massivamente no desenvolvimento de IA e tecnologias de defesa.
b) Fortalecer a segurança nacional: O avanço de tecnologias emergentes, especialmente aquelas com aplicações militares e estratégicas, está diretamente ligado à capacidade de defesa do Estado. A promoção de um ambiente que favoreça o desenvolvimento doméstico dessas tecnologias é fundamental para garantir a superioridade em áreas críticas que podem determinar o equilíbrio de poder em um futuro marcado por uma “guerra entre IAs” e conflitos cibernéticos.
c) Gerar uma nova dimensão de rivalidade: Assim como as tarifas e medidas protecionistas podem provocar retaliações comerciais e realinhamento das cadeias produtivas, a competição tecnológica cria um campo de batalha adicional. A disputa pelo domínio da IA não se restringe ao ambiente econômico, mas estende-se ao domínio geopolítico, onde cada avanço pode ser interpretado como uma conquista estratégica. Essa corrida tecnológica, em paralelo à corrida armamentista, pode intensificar ainda mais as tensões internacionais, colocando as nações em rota de colisão tanto no campo comercial quanto no militar e tecnológico.
Em suma, as tarifas, embora sejam usadas para pressionar parceiros comerciais, acarretam riscos de retaliação e disrrupção das cadeias produtivas, o que é reforçado pelo cenário de estagnação econômica da economia estadunidense. Quanto à reorganização das cadeias de valor e à ascensão da China, há uma forte possibilidade de a China se consolidar em setores vulneráveis aos efeitos protecionistas dos EUA, principalmente quando se observa a necessidade dos Estados e principalmente, das empresas, de reconfigurar seus blocos produtivos em um ambiente de crise. No que se refere à crise estrutural da economia estadunidense, o protecionismo não surge apenas como uma estratégia de barganha, mas como uma resposta a uma economia que, apesar de sinais superficiais de saúde, está estacionada e incapaz de gerar crescimento sustentável. A transição dos setores de bens de consumo para a indústria de defesa é um indicativo de que o protecionismo e a crise econômica podem estar conduzindo os EUA a um modelo de economia orientada para a guerra, o que acrescenta uma camada extra à análise das consequências das políticas de Trump. Essa dinâmica, somada à crescente competição tecnológica e à disputa pelo domínio da inteligência artificial, evidencia que os desafios atuais se desdobram em múltiplas dimensões: econômica, geopolítica e tecnológica. Os dados sobre a precarização dos salários, a queda na produtividade e as greves intensas somam uma dimensão social à análise, indicando que o protecionismo pode também alimentar tensões internas, que, em conjunto com as rivalidades internacionais e a corrida tecnológica, podem precipitar conflitos de maior escala.
As medidas protecionistas, embora tentem fortalecer a posição dos EUA, podem gerar efeitos colaterais desastrosos tanto na economia quanto nas relações internacionais. Estamos diante de respostas dadas em virtude de os EUA serem hoje uma economia estacionária, o que torna a aposta no protecionismo algo muito arriscado não só para os EUA. Em um cenário onde a produtividade declina, os salários crescem a um ritmo insatisfatório e a produção se reorienta para setores de defesa, a política de Trump pode não apenas fracassar em reanimar a economia de forma sustentável, mas também intensificar conflitos internos e globais – inclusive na arena tecnológica –, criando um ciclo vicioso que agrava ainda mais as contradições do sistema capitalista contemporâneo, o que, dadas as condições atuais de esfacelamento interno da esquerda, levanta o espectro não do Comunismo, mas da guerra total.
Bom dia Lucas,
Observe a fala dele de hoje do Trump: https://x.com/BehizyTweets/status/1886927874533548173 , essas guerras com invasão e destruição de infraestrutura geram uma necessidade de reconstrução. Junto a isto a guerra não acaba, mas muda de forma, a tendência é se transformar em uma guerra de baixa intensidade, igual no Iraque.
Sim, a tendência são os gastos militares perderem importância, mas somente se o EUA saírem do estado estacionário de sua economia. Caso não consiga podemos ver uma outra grande crise cíclica do Capital a todo vapor e com os trabalhadores sem um pingo de paciência e a burguesia sem nada pra oferecer além do chicote. Alguns economistas chamam de DOUBLE DIP, chamamos de crise catastrófica.
Obrigado pela pergunta, estamos a disposição
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Bom dia Pablo,
vamos em partes, mas já pra começar, não reforçam não. Sobre a tese da crise estrutural eu debato no texto https://passapalavra.info/2022/02/142324/ (fio dividido em 4)
Vamos a tese de Mészáros
“De fato, os picos das históricas e bem conhecidas crises periódicas do capital podem ser — em princípio — completamente substituídos por um padrão linear de movimento. Seria, contudo, um grande erro interpretar a ausência de flutuações extremas ou de tempestades de súbita irrupção como evidência de um desenvolvimento saudável e sustentado, em vez da representação de um continuum depressivo, que exibe as características de uma crise cumulativa, endêmica, mais ou menos permanente e crônica, com a perspectiva última de uma crise estrutural cada vez mais profunda e acentuada“
A tese é da década de 1970
Agora observe o gráfico do FED que pusemos acima. Minha crítica é: onde está o continuum depressivo desde a década de 1970? ou desde qualquer década.
Se a tese se confirmasse a quantidade de fábricas, fazendas, estradas, armazéns e tudo mais do processo de produção de valor e mais valia teria diminuído da década de 1970 pra cá. E isso é o contrário da TEORIA DO VALOR de Marx, ou seja, elas são opostas. Se uma se confirma a outra está suplantada.
No texto citado acima, faço uma reflexão sobre os EUA. Nos EUA até o nº de trabalhadores produtivos (Capital variável) aumentou em relação a população relativa e absolutas deles. Se for falar de desemprego estrutural a coisa fica pior para a tese de Mészáros.
b) Sim, são uma resposta ao não crescimento da economia. E SIM ” em tempos de crise, os Estados tendem a adotar medidas que os conduzem a uma economia de guerra.”
c) guerra comercial tb são guerras- lembremos de Clausewitz, A Guerra é a continuação da política de Estado por outros meios – E o artigo q citamos sobre a queda na participação dos EUA na economia mundial. Inclusive a GUerra comercial é uma faceta da política entre os Estados nacionais.
O que os Estados estão preocupados mesmo é proteger as indústrias e seus segredos de produção, o resto eles querem é passar no cobre.
Obrigado pela pergunta, estamos a disposição